dezembro 26, 2006

Círculo



No meu pensamento aconteceu...
Portanto, parámos exactamente aqui
envoltos neste mesmo círculo que deixámos aberto
desde a última vez que nos recordámos da sua existência...
Voltámos aos momentos só nossos,
à volta de palavras e frases que saem de dentro de nós
e nos tentam transportar para aquele momento,
estratégicamente vivido, naquele pequeno quarto
onde tudo se resumiu à pele, ao calor,
à intensidade das palavras vociferadas ao ouvido...
Voltámos aos cabelos com cheiro a paixão e
aos olhares ofegantes e de puro calor inquietante,
que não nos deixam dormir quanto mais ficar acordados...
Deixámos que todos os sentimentos se apoderassem do que somos,
baralhámos e voltámos a dar...
No meu pensamento aconteceu,
portanto paramos exactamente aqui!

texto | rui marques
foto | shape_in_circle_II_by_exploria>www.deviantart.com

dezembro 16, 2006

Um Livro ConVida

"- Por favor, prende-me a ti. Só conhecemos as coisas que prendemos a nós - disse a raposa.
- E o que é que é preciso fazer - disse o principezinho.
- É preciso ter muita paciência. Primeiro sentas-te um bocadinho afastado de mim, assim, em cima cima da relva. Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não dizes nada. Mas todos os dias te podes sentar um bocadinho mais perto...
E o principezinho voltou no dia seguinte.
- Era melhor teres vindo à mesma hora.
- Se vieres, por exemplo, às 4 horas, às 3 já eu começo a ser feliz. E quanto mais perto for da hora, mais feliz me sentirei. Às 4 em ponto já hei-de estar toda agitada e inquieta; é o preço da felicidade! Se vieres a uma hora qualquer não saberei quando hei-de arranjar meu coração, pô-lo bonito... são precisos rituais.
- O que é um ritual? - perguntou o principezinho.
- Também é uma coisa de que toda a gente se esqueceu. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias a uma hora certa.
- Adeus raposa...
- Adeus - disse a raposa... mas antes vou contar-te um segredo. É muito simples: Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos... Foi o tempo que perdeste com a tua flor, a tua Rosa, que tornou a rosa tão importante para ti... os homens já se esqueceram desta verdade, mas tu não te deves esquecer dela. Ficas responsável para todo o sempre por aquilo que está preso a ti. Tu és responsável pela tua Rosa...
- Sou responsável pela minha Rosa. - repetiu o principezinho para nunca mais se esquecer!"

texto | o principezinho>antoine saint-éxupery
imagem | 1997, pastels, illustration>http://www.math.cmu.edu/~pikhurko/art/portraits.html

dezembro 03, 2006

Definitivamente...

Definitivamente
não gosto destes dias que me acordam
rodeado de nevoeiro e humidade extrema
no ar!
Pintam-me de cinzento por dentro,
queimam-me como os pedaços de madeira
que ardem na lareira...

Definitivamente
não gosto daquela chuva que molha incauto
quem sobranceiramente desafia
umas quantas nuvens cinzentas pela manhã!
Não gosto!
Cai sempre aquela vil pinga gelada no pescoço despido...
Arrepiante... Sádica até...
Apenas um capricho das nuvens,
uma pequena e incómoda vingança
pela ousadia dessa manhã!
Que apenas nos relembra do
quão
pequenos somos...
E que nem sempre a razão nos acompanha!

Definitivamente...
Prefiro não ter razão ao Sol!


foto | rui sousa > http://apontaedispara.blogs.sapo.pt
texto | rui marques

novembro 26, 2006

Ao Poeta Fundamental

Lembra-te
que todos os momentos
que nos coroaram
todas as estradas
radiosas que abrimos
irão achando sem fim
seu ansioso lugar
seu botão de florir
o horizonte
e que dessa procura
extenuante e precisa
não teremos sinal
senão o de saber
que irá por onde fomos
um para o outro
vividos

mário cesariny 1923 | 2006

novembro 08, 2006

Estação

Esperar ou vir esperar querer ou vir querer-te vou perdendo a noção desta subtileza.
Aqui chegado até eu venho ver se me apareço e o fato com que virei preocupa-me,
pois chove miudinho

Muita vez vim esperar-te e não houve chegada
De outras, esperei-me eu e não apareci embora bem procurado entre os mais que passavam.
Se algum de nós vier hoje é já bastante como comboio e como subtileza
Que dê o nome e espere.Talvez apareça


texto | mário cesariny > estação
foto | justynka>railwaystation 26 » www.deviantart.com

Apenas um pequena informação para quem quiser ser informado!

Está de regresso aos escaparates o verdadeiro artista norte-americano que responde pelo nome de Beck. "The Information" é o seu novo álbum, presenteando-nos com aquela sonoridade tão característica do artista, agora de volta à sua melhor forma desde "Odelay". Para mais informações é favor procurarem que decerto encontrarão! Mas mais urgente é mesmo escutar com atenção!

Diz que vale bem a pena ouvir...


Depois de um período de reflexão, venho aqui apresentar uma Senhora de seu nome Cat Power, com o seu álbum "The Greatest". A cantautora de Atlanta apresenta-nos, com este registo, o seu trabalho mais aberto ao público em geral, cheio de excelentes canções empregnadas de sentimentos que têm, na excelente voz da protagonista, um excelente veículo para se poderem fazer ouvir!
Vale bem a pena! Ouçam...

outubro 06, 2006

Etéreo

Sinto essa luz que me ilumina, mesmo!
Mesmo no mais escuro dia...
Na mais escura noite...
E sei que a sinto mesmo de olhos fechados!
Sinto o seu calor que me aconchega,
a sua presença que acompanha...
A sua paz que orienta!
Sinto essa vida que me atravessa,
que põe e dispõe de mim!
Sinto essa vida que me transporta,
que me ultrapassa...
Que me vem buscar!
Sinto-a bem no âmago do meu ser...
Sinto-a a viver em mim!
Sei que sinto e sei sentir
e nunca só por sentir...
Sei que nada pára nem espera por mim...

E eu estou a ir!



texto | rui marques
foto | rui sousa > http://apontaedispara.blogs.sapo.pt

Lobo da Noite

No alto daquela varanda observo a negra noite que cai, apesar de toda uma luz que me rodeia e atrai...
Encosto as mãos ao corrimão frio, interminável
e naquela fracção de segundos sinto que não estou só! Sinto um ser que me observa e me rodeia, silenciosamente...
Sei que, estando imóvel, passarei despercebido
e, no entanto, algo dentro de mim berra,
faz com me desloque em sua direcção!
Sem saber porquê, nem como, vou!

A noite protege-me! A noite expõe-me...
A noite silencia-me!
E, contudo, ouço a noite que uiva, bem ao longe...
A lua, bem mais perto, ilumina-me!
Sinto a transformação à minha volta!
Sinto-a bem do alto da escuridão...
Sinto que sei o que me transporta nesse momento
e, assim sendo, deixo-me levar pela noite dentro
mesmo sabendo que, no fundo,

o dia está já perto de romper aos primeiros clarões de luz...

E que em mim apenas ficará o cheiro
e o calor
da transformaçao dentro do meu ser...



texto | rui marques
foto | mystery by amistiel>www.deviantart.com

outubro 01, 2006

Vinhos com Bom Gosto

Desta vez apresento-vos um vinho do Douro, com um nome extremamente original e que lhe confere uma orgininalidade muito grande ao nível da imagem!


Quanto ao vinho em si, apresenta-se como um vinho intenso, com um bom sabor e um final prolongado! Apesar de não ser um grande apreciador dos vinhos da região duriense, este surpreendeu-me!


Aconselho vivamente!

setembro 28, 2006

A Tv na Rádio? Ou o Rádio é que comanda a Vida?...

Avisam-se todos os interessados que o colectivo TV On The Radio lançou para os escaparates o seu novo álbum "Return to Cookie Mountain"!
Simplesmente viciante a forma como reinventam sons e como conseguem juntar excelentes músicas a excelentes textos!

Recomendo vivamente!!

setembro 23, 2006

Vinhos com Bom Gosto

Desta vez trago-vos outro vinho do Dão, da Vinícola de Nelas, o Status Grande Escolha de 2003.

Exteriormente, marca por uma imagem bastante homogénea e de muito bom gosto. Já no interior está um vinho também de bom gosto, bastante frutado, com um final persistente e uma agradável presença!

Recomendo!

A culpa é mesmo dele!


Apenas porque é sempre bom voltar a ouvir uma obra de arte!

setembro 20, 2006

À Volta em mim


Pé ante pé rumamos até a um fim
a um ritmo cadenciado pelo bater do coração
do sol na nossa cara, vamos...
apesar de tudo, neste momento
quase que me apetece parar
e sentir o que me rodeia, doce melancolia...

Minuto após minuto, espero por algo que tarda
mas que quase vejo à minha frente
e mais, não chega...
Será que algum dia aparecerá, questiono...
fecho os olhos ao barulho da brisa que corre,
corre apressada para uma calma buliciosa...

Dia após dia, parece-me tudo o mesmo
parece-me tudo parado, à espera...
e, algo me diz no meu âmago, que talvez
não deva ser assim, este tempo que corre...
que talvez não devesse correr sozinho...
a viagem tornar-se-ia veloz e quente
a procura do que quer que se procure
falará bem mais alto e bem mais vezes
mesmo que não se encontre pura e simplesmente
nada...


texto | rui marques
foto | iva coelho>http://apontaedispara.blogs.sapo.pt/

setembro 01, 2006

Uma Certa Circunstância


Por hoje sei que sou eu que me entendo!
Sei perfeitamente que sou eu que me respondo
E questiono
Sei mais do que o que devia,
Que sim, sou eu
Hoje que aqui está para saber
Se estas linhas me respondem
Seja de uma forma colorida ou simplesmente
Com aroma a café

Sei que sei todos os nomes
E estados de espírito
De um sentir de ansiedade e viver
Que me percorre bem cá dentro,
Somente depois de abrir os olhos,
Perto da hora de adormecer...

Sei que sei tudo sobre qualquer coisa
Que por vezes me parece nada
Mas acredito saber que o sei!
Sei que o mar me prende
Que o sol me embriaga
Que a lua me esconde
Que todos os minutos e segundos me acompanham
A cada vida que passa...

Por hoje sinto que me entendo
Sei que hoje é possível
Perguntar, responder, colorir e saborear
Cada pedaço de luz, cor e sabor
Talvez sentir...
Hoje sei-me bem mais presente
E, provavelmente,
Amanha também cá estarei...

texto | rui marques
foto | ~amacabresilence>www.deviantart.com

agosto 31, 2006

Começo


Magoei os pés no chão onde nasci.
Cilícios de raivosa hostilidade
Abriram golpes na fragilidade
De criatura
Que não pude deixar de ser um dia.
Com lágrimas de pasmo e de amargura
Paguei à terra o pão que lhe pedia.

Comprei a consciência de que sou
Homem de trocas com a natureza.
Fera sentada à mesa
Depois de ter escoado o coração
Na incerteza
De comer o suor que semeou,
Varejou,
E, dobrada de lírica tristeza,
Carregou.

texto | miguel torga
foto | paulo cristovão

Boas notícias para quem adora más notícias


Apesar de a edição já não ser deste ano, recomendo a audição atenta do álbum "Good News For People Who Love Bad News" dos Modest Mouse...

Apenas uma forma diferente de fazer canções...

Vinhos com Bom Gosto

Mais uma vez voltamos a esta nova secção d' O Culto ou, quem sabe, de culto!

Desta vez apresento um vinho da minha região, região do Dão, que exemplifica como se pode ser original e irreverente num meio conotado com bastantes laivos de sobriedade e ser-se bem sucedido!

Quanto ao Vinho em si, infelizmente ainda não o provei mas sempre pode deixar um comentário neste espaço, caso já o tenha provado.

Mas a própria região quase que fala por si...

agosto 22, 2006

Sentimento

Naquele quarto fechado e pintado de escuro
entra um raio de luz que ilumina a cara,
já de si descrente de um céu azul ao pequeno-almoço,
e a reveste de um halo imaculado de sentimentos difusos

por entre minutos e minutos que passam
afoga-se naquele raio de luz
como se de um sorriso se tratasse

Porque no fundo de tudo
O que faz de nós mais vivos
é o que se sente, seja como for
e durante o tempo necessário
a voltar a cair de novo dentro do nosso quarto escuro...

foto | the room>KGmexena-www.deviantart.com
texto | rui marques

agosto 07, 2006

Vinhos com Bom Gosto

Porque neste nosso País à beira-mar plantado o Vinho também é Cultura, começarei hoje a referir por aqui vários produtos que, pela sua qualidade e excelente imagem, nunca nos deixarão indiferentes.

Será um novo espaço a aproveitar neste blog, sempre com a colaboração desse Grande Amigo, Rui Sousa, e esperamos que seja do vosso agrado.

O primeiro apontamento fica com este vinho alentejano, o que só por si já diz bastante, com um rótulo marcante e de excelente bom gosto!



para mais informações:
http://elixirdebaco.blogs.sapo.pt/5224.html

julho 31, 2006

Dizem que a paixão o conheceu

dizem que a paixão o conheceu
mas hoje vive escondido nuns óculos escuros

senta-se no estremecer da noite enumera
o que lhe sobejou do adolescente rosto
turvo pela ligeira náusea da velhice

conhece a solidão de quem permanece acordado
quase sempre estendido ao lado do sono
pressente o suave esvoaçar da idade
ergue-se para o espelho
que lhe devolve um sorriso tamanho do medo

dizem que vive na transparência do sonho
à beira-mar envelheceu vagarosamente
sem que nenhuma ternura nenhuma alegria
nenhum ofício cantante
o tenha convencido a permanecer entre os vivos

texto | al berto
foto | loneliness by age of loss > www.deviantart.com

Loucos

Vou deixando, deixando correr o que sinto
Se bem que o que me apetece é parar
Dar uma volta e regressar!
Sentir de novo esse respirar de Sol
De sonho, de brisa...
Parar, regressar!
Talvez desesperar,
sem dúvida parar de pensar...


Mas que raio...
Porquê esse olhar de soslaio?
Apetece-me de facto, rebobinar
Dar dois passos e saltar
Em frente, para trás...

Sinto-me a fechar em mim
A preferir não ver o sol, o mar
Sinto que pereço
Sinto-me pouco de mim
É assim...
Saio de fora daquilo que sou para tentar ser mais alguém
Prefiro não o ser...
Prefiro não ser de todo!
Isto de sentir faz-nos crescer e envelhecer aos poucos
Sorrir e sofrer que nem loucos...

texto | rui marques
foto | rui sousa > http://apontaedispara.blogs.sapo.pt/

julho 29, 2006

Amigos

Um dia a maioria de nós irá separar-se. Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que partilhamos. Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das vésperas dos finais de semana, dos finais de ano, enfim... do companheirismo vivido. Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre. Hoje não tenho mais tanta certeza disso. Em breve cada um vai para seu lado, seja pelo destino ou por algum desentendimento, segue a sua vida. Talvez continuemos a nos encontrar, quem sabe... nas cartas que trocaremos. Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices... Aí, os dias vão passar, meses...anos... até este contacto se tornar cada vez mais raro. Vamo-nos perder no tempo.... Um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias e perguntarão: "Quem são aquelas pessoas?" Diremos...que eram nossos amigos e...... isso vai doer tanto! -"Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons anos da minha vida!" A saudade vai apertar bem dentro do peito. Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente... Quando o nosso grupo estiver incompleto... reunir-nos-emos para um último adeus de um amigo. E, entre lágrima abraçar-nos-emos. Então faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante. Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vida, isolada do passado. E perder-nos-emos no tempo..... Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades.... Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!

texto | fernando pessoa
foto | sigpras > www.deviantart.com

julho 23, 2006

Desejo


Vagos sorrisos esvoaçam de forma constante enquanto aquela troca de olhares subsiste... Por força de uma luz ou de uma razão vinda não se sabe bem de onde, aqueles olhos cruzaram-se... incendiraram-se! Queimaram, de tanto fogo, todo o olhar que arde em Desejo... E, no entanto, aquele instante não esteve presente durante todo um sempre... Simplesmente perdeu-se pelo caminho...

texto | rui marques
foto | Crystal_Eye - midnightdky-doul>www.deviantart.com

A estória de uma lua poeta e as estrelas que a acompanhavam...

Aquele luar, sem ar
um todo refractário
quase que me engolia em um trago só!

Agarrou em mim, com uma só mão
e
deixou-me estarrecido a ver as estrelas nascer

umas novas, outras também

e outras sem dono...
Fiz-lhe prometer que uma delas seria minha
ao qual nem sequer tive resposta.

Aquele luar, gelado

bebeu-me de um só trago

deixou-me pendurado
agarrado a uma estrela...
"Só sais daí - disse-me - quando realmente perceberes
que as estrelas são de quem elas quiserem"!

Aquele luar, alado

contou toda a verdade

em forma de poema...

escrito sem caneta...

mas espalhado por todos os corações...


texto | rui marques
foto | rui sousa>http://apontaedispara.blogs.sapo.pt

julho 17, 2006

Sá de Miranda Carneiro

comigo me desavim
eu não sou eu nem sou o outro


sou posto em todo perigo

sou qualquer coisa de intermédio


não posso viver comigo

pilar de ponte de tédio

não posso viver sem mim

que vai de mim para o Outro


texto | alexandre o'neill
foto | prismes>www.deviantart.com

Não sei se escreva

e de repente abro os olhos
sinto um calor abrasador à minha volta que me limita os movimentos
parece-me que estou preso...

parece-me que estou longe...

parece-me tudo tão estranho...

tento levantar-me sem barulhos de maior mas o nevoeiro impede-me de o fazer
mas que raio será tudo isto
que loucura é esta que me invade

porque não consigo ver todas as cores?
guardo imagens separadas de mim e nem sequer sei porquê
são frias...

apetece-me fechar os olhos novamente

não quero ver

apenas quero sentir

quero respirar com vontade
e deixar-me inundar por essa forma de viver tão estranha

bem amarga, tão doce

mas que no fundo...
no fundo será sempre viver...


foto | rui sousa>
http://apontaedispara.blogs.sapo.pt/
texto | rui marques

julho 08, 2006

3 segundos de Vida

Aquela deslocação do ar estremeceu-me completamente...
fez-me andar em frente e retroceder todo esse caminho de volta até ao ponto de partida
fez um zumbido na minha consciência

e atordoou os meus sentidos...
os meus sentimentos...
Aquela fracção de segundos esteve presente 3 mil anos em frente e provavelmente nem um segundo durou
aquele momento congelou-me e nem sequer o senti passar por mim, apenas o senti vir em minha direcção completamente indefeso

e de repente virei estátua... saltei para trás e como que adormeci na esquizofrenia do momento
Respirei três vezes enquanto todo eu tremia
olhei em volta e todo o tempo estava parado
seria possível que tudo terminasse assim apesar de tão pouco viver ter passado por mim
ficaria órfão de sentir

E nem os olhos abririam mais...

texto | rui marques
foto | rui sousa>http://apontaedispara.blogs.sapo.pt

julho 06, 2006

Pegadas no nunca mais tarde


por estes dias foge-me o caminho dos pés...
sobe-me um sentir de silêncio pelas horas dos meus dias...
lembra-me que se possivel poderia ter tudo e mesmo assim não ter nada
absolutamente nada
ou absolutamente tudo...
e mesmo assim viver
sobreviver
conviver
acima de tudo reviver!...
faz-me lembrar essa cor vermelha
de um rubor na face...
de um ardor inconsciente...
de uma forma de divagar por caminhos suspensos
imensos
de um modo concreto assalta-me uma imagem de um sentir inebriado
sinto que se voasse...
se voasse...
perderia os sentidos mesmo antes de os encontrar
chegava onde queria mesmo antes de o saber...
e mais cedo ou mais tarde podia ver tudo outra vez
mesmo de olhos fechados
sentia essa respiração
essa presença
desse caminho que me foge dos pés
dessa vida que teima em andar para trás...
sou mais eu
apesar de não o ser
já fui bem mais...
e no fundo apenas deixei correr o tempo desgovernado
rumo a uma música distante
a um café mais que quente, bem frio...
deixei que se me fugisse entre os dedos das mãos esse tempo
por entre as cordas que seguram o navio
por entre o nevoeiro rumo ao rochedo mais distante...

texto | rui marques
foto | www.tenebris69.deviantart.com

junho 29, 2006

No Escuro



Já não há poemas para escrever...
acabaram todos por desaparecer em uma tarde de verão! desamparadas ficaram estas folhas de papel e a caneta que dançava
Ao som da musica que emanavam...
Quadra ante quadra, verso ante verso, foram saindo sozinhos...
Acompanhados pela melancolia das folhas
a dançar ao som do vento...
Linha após linha, sentimento após sentimento, sumiram-se no pó de uma tarde de calor com cheiro a chuva...
Já não há musica para tocar não há musica para dançar Nem a caneta
Nem...
as folhas de papel
Desapareceu tudo... tudo...
no fim daquela tarde de verão... E nem os poemas ficaram para ler...

texto | rui marques
foto | www.deviantart.com

junho 20, 2006

Mar Morto


A noite caiu sobre o cais, sobre o mar, sobre mim...
As ondas fracas, contra o molhe, são vozes calmas de afogados.
O luar marca uma estrada clara e macia nas águas,
mas os barcos que saem podem procurar mais noite,
e com as suas luzes vão pôr mais estrelas além ...
O vento foi para outros cais levar o medo,
e as mulheres, que vêm dizer adeus e cantar,
hoje sabem canções com mais esperança,
canções mais fortes que a ressaca,
canções sem pausas onde passe uma sombra da morte...
Velhos marítimos ? a terra é já a sua terra ?
olham o mar mais distante e têm maior saudade...
Pára o rumor duns remos...
Não vão mais às estrelas as canções com noite, amor e morte...
Penso em todos os que foram e andam no mar,
em todos os que ficam e andam no mar também ...
E a luz do farol, lá longe, diz talvez...

foto | samuel rodrigues
texto | alberto de serpa

junho 18, 2006

Todo o Amor do mundo não foi suficiente

todo o amor do mundo não foi suficiente
porque o amor não serve de nada.
ficaram
os papéis e a tristeza,
ficou só a amargura e a cinza dos cigarros e da morte.
os domingos
e as noites que passámos a fazer planos não foram suficientes
e foram demasiados porque hoje são como sangue no teu rosto, são como lágrimas.
sei que nos amámos muito e um dia, quando já não te encontrar em cada instante, cada hora, não irei negar isso.
não irei negar nunca que te amei.
nem mesmo quando estiver deitado, nu, sobre os lençois de outra e ela me obrigar a dizer que a amo...

texto | josé luís peixoto>todo o amor do mundo não foi suficiente
música | a naifa>todo o amor do mundo não foi suficiente
foto | rui sousa>http://apontaedispara.blogs.sapo.pt

junho 16, 2006

Ontem...

Ontem
saí por aí
navegando...
Hoje
tenho medo de voltar
à terra estranha
a ter terra nos pés.
Quando a noite caiu
achei que tinha algo a dizer
do silêncio (dele)
mas antes de dizer
caio também
no absurdo
antes de dizer
escuto...

texto | adriana lustosa>ontem
foto | rui sousa>http://apontaedispara.blogs.sapo.pt

Estados de espírito


E por vezes as noites duram meses E por vezes os meses oceanos E por vezes os braços que apertamos nunca mais são os mesmos E por vezes
encontramos de nós em poucos meses o que a noite nos fez em muitos anos E por vezes fingimos que lembramos E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos só o sarro das noites não dos meses lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos E por vezes por vezes ah por vezes num segundo se envolam tantos anos


texto | david mourão-ferreira
foto ! sérgio murillo > www.olhares.com/sergiomurillo

junho 01, 2006

Angels on the sideline again


Monkey killing monkey killing monkey
over pieces of the ground.
Silly monkeys give them thumbs they make a club,
And beat their brother down.
How they survive so misguided is a mystery.
Repugnant is a creature who would squander the ability,
To lift an eye to heaven, conscious of his fleeting time here

Angels on the sideline again,
Benched along with patience and reason.
Angels on the sideline again,
Wondering where this tug of war will end


Uma experiência única... Transcendente...

TOOL
26 | o5 | 2006
texto| maynard james keenan

abril 05, 2006

Pink Floyd



When we grew up and went to school,
there were certain teachers who would hurt the children anyway they could
by pouring their derision upon anything we did
exposing any weakness however carefully hidden by the kids.
But in the town it was well known
When they got home at night their fat and psychopathic wives
Would thrash them within inches of their lives!


texto | pink floyd>another brick in the wall

uma das grandes bandas de todos os tempos
e que sempre soube rodear-se de outras expressões de arte com extrema qualidade

Nos teus braços morreríamos



Nunca se sabe o que é para sempre, sobretudo nas coisas do amor. E era uma coisa do amor, isto tudo. São tão estranhas as coisas do amor que não se compreendem por inteiro. Tem de se estar sempre a fazer suposições. Nunca se sabe como e até que ponto a até quando. Esta obsessão chega para impedir a
vida, o amor pode impedir o amor, amaldiçoá-lo como um espectro.


texto | pedro paixão

abril 01, 2006

10 Anos Depois...


"Portugal que com todos estes senhores conseguiu a classificação do país mais atrasado da Europa e de todo o mundo! O país mais selvagem de todas as Áfricas! O exílio dos degredados e dos indiferentes! A África reclusa dos europeus!

O entulho das desvantagens e dos sobejos! Portugal inteiro há-de abrir os olhos um dia - se é que a cegueira não é incurável e então gritará comigo, a meu lado, a necessidade que Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado!"


texto | manifesto anti-dantas>mário viegas

março 25, 2006

Notícias do Fundo




Não poderia deixar de homenagear aqui um dos projectos musicais mais geniais que Portugal já viu nascer... infelizmente acabaram...

Dá notícias do fundo Como passam teus dias Diz se a razão nos chega para viver Se amor nos serve, Amor não dá de comer Fico melhor assim Em todo o caso vai pensando em mim Se tocámos em alguma coisa Se me chamas por algum motivo Se nos podem ver Se nos podem tocar Meu desejo É morrer na paz do teu beijo Sem futuro É lutar por um beijo mais puro Eu vou estar sempre aqui Nada vai mudar Sinto-te arder no meu fundo Eu vou estar sempre aqui Nada vai mudar Sinto-te entrar no meu mundo Fundo Nós tocámos em alguma coisa Nós seguimos por alguns sentidos Se nos podem ver Não nos podem tocar Meu desejo É morrer na paz do teu beijo Sem futuro É lutar por um beijo mais puro

Ornatos Violeta

março 23, 2006

Adeus


Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mão à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.


Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.


Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!

e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.


Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.


Adeus.
texto | adeus>eugénio de andrade
foto | www.deviantart.com

março 22, 2006


A minha Alma,
fugiu pela Torre Eiffel acima,
A verdade é esta,
não nos criemos mais ilusões
Fugiu,
mas foi apanhada pela antena da TSF
Que a transmitiu pelo infinito em ondas hertzianas...

(Em todo o caso que belo fim para a minha Alma)!...


texto | mário de sá-carneiro
imagem | as asas do desejo>win wenders

março 21, 2006

Comunicação a todos os Românticos

Avisam-se todos os possíveis interessados que
estamos autorizados a
tentar salvar o mundo
seja de que forma for ou quando
sendo no entanto necessário o
preenchimento de cerca de...

325 papeís de cor azul, alguns, e outros de cor de laranja
que terão de ser entregues até um minuto
repito!
um minuto após se ter começado a preencher
qualquer um deles...

Avisam-se todos os interessados em tentar salvar o mundo
que para todos os efeitos não serão disponibilizadas
verbas de representação por parte de quem manda
nem sequer será dada dispensa sabática dos locais de trabalho
Avisa-se também a todos os interessados
que as aulas de salvamento do mundo serão
divididas ao longo de 18 anos
a começarem logo à nascença do interessado

Avisam-se todos os interessados em mudar o mundo
que terão que preencher dois requisitos de candidatura:
serem românticos
e acreditar em causas perdidas...

texto | rui marques

março 20, 2006

A Bela Acordada


"Era uma vez uma mulher que tão depressa era feia era bonita, as pessoas diziam-lhe:
- Eu amo-te.
E iam com ela para a cama e para a mesa.
Quando era feia, as mesmas pessoas diziam-lhe:
- Não gosto de ti.
E atiravam-lhe com caroços de azeitona à cabeça.
A mulher pediu a Deus:
- Faz-me bonita ou feia de uma vez por todas e para sempre.
Então Deus fê-la feia.
A mulher chorou muito porque estava sempre a apanhar com caroços de azeitona e a ouvir coisas feias. Só os animais gostavam sempre dela, tanto quando era bonita como quando era feia como agora que era sempre feia. Mas o amor dos animais não lhe chegava. Por isso deitou-se a um poço. No poço, estava um peixe que comeu a mulher de um trago só, sem a mastigar.
Logo a seguir, passou pelo poço o criado do rei, que pescou o peixe.
Na cozinha do palácio, as criadas, a arranjarem o peixe, descobriram a mulher dentro do peixe. Como o peixe comeu a mulher mal a mulher se matou e o criado pescou o peixe mal o peixe comeu a mulher e as criadas abriram o peixe mal o peixe foi pescado pelo criado, a mulher não morreu e o peixe morreu.
As criadas e o rei eram muito bonitos. E a mulher ali era tão feia que não era feia. Por isso, quando as criadas foram chamar o rei e o rei entrou na cozinha e viu a mulher, o rei apaixonou-se pela mulher.
- Será uma sereia ? . perguntaram em coro as criadas ao rei.
- Não, não é uma sereia porque tem duas pernas, muito tortas, uma mais curta do que a outra . respondeu o rei às criadas.
E o rei convidou a mulher para jantar.
Ao jantar, o rei e a mulher comeram o peixe. O rei disse à mulher quando as criadas se foram embora:
- Eu amo-te.
Quando o rei disse isto, sorriu à mulher e atirou-lhe com uma azeitona inteira à cabeça. A mulher apanhou a azeitona e comeu-a. Mas, antes de comer a azeitona, a mulher disse ao rei:
- Eu amo-te.
Depois comeu a azeitona. E casaram-se logo a seguir no tapete de Arraiolos da casa de jantar."

pintura | madonna>edvard munch
texto | a bela acordada>adília lopes

março 19, 2006

Uma Vida inteira...


Quero ser, por ser, sem ser
algo mais que luz, que sol,
algo mais que sombra,
Quero ser eu, uma pessoa, um ser...
simples e complexo,
racional e sem nexo,
que sente e faz sentir
que chora e faz sorrir...
quero ouvir sem escutar,
quero sorrir sem me lembrar
em ser alguém, só por ser,
por imposição ou expectativa, ser...
por ser!!
sem cair em desuso,
sem ser, só por abuso,
quero ser e crescer,
em pé...
e respirar fundo...

texto | rui marques
foto | sérgio murillo > www.photografos.com.br/serginho33

Extraordinary Machine

Está de volta aquela que dá voz a todas a revoltas que todos nós enfrentamos diariamente!
Com muito para dizer, depois de tantos anos de ausencia nos escaparates, Fiona Apple regressa com um registo cheio de sensualidade, emancipação, opinião e com uma personalidade muito forte, algo a que desde sempre nos habituou.
Para ouvir, voltar a ouvir e passar o dia todo a pensar nisso!...

O Antídoto


Ele e ela, ao olharem-se, atravessados por tudo, poderiam ter dito a palavra amor.
Era uma palavra que estava diante dos seus rostos, misturada com os seus olhares.
Mas, por isso, era uma palavra que já não poderiam saber porque, a partir desse momento, nós atravessámo-los para sempre.
E nem ele, nem ela sabem o significado mais profundo daquilo que os invade.
Os homens não sabem o significado daquilo que os invade.
A terra sabe.
O sol sabe.
O tempo sabe.
Nós sabemos.

texto | aquilo que invade os homens>josé luís peixoto

O Guardador de Rebanhos

Como uma grande bordão de fogo sujo
O sol-posto demora-se nas nuvens que ficam.
Vem um silvo vago de longe na tarde muito calma.
Deve ser de um comboio longínquo.

Neste momento vem-me uma vaga de saudade
E um vago desejo plácido
Que aparece e desaparece.

Também, às vezes, à flor dos ribeiros
Formam-se bolhas na água
Que nascem e se desmancham.
E não têm sentido nenhum
Salvo serem bolhas de água
Que nascem e se desmancham.


texto | o guardador de rebanhos>alberto caeiro
foto | sérgio murillo> www.photografos.com.br/serginho33

março 18, 2006

Be Patient




I must keep reminding myself of this...



É já dia 26 | Maio | 06 que um dos maiores expoentes mundias do cruzamento entre Música e Arte/Cultura vai visitar o nosso paí­s...

Antes, porém, poderemos escutar os temas no novo album "10 000 Days" já a partir de dia 02 de Maio!

Bastante recomendável...

Todo o sucesso do mundo não será suficiente!




Aconselho urgentemente a todos os indigentes uma escapadela até um teatro ou auditório mais perto de si e isto tudo porque "A Naifa" volta a cortar completamente com o "establishment" musical portugues...

Ontem deram em Viseu o primeiro de uma série de 20 concertos em solo nacional! Foi, no mí­nimo, intenso...

Num misto de Música, Teatro, Empatia e Alma "A Naifa" toca-nos a todos!
Porque somos Portugueses...
Porque todos temos Saudade...
Porque todos sentimos que o nosso "Fado" tem que mudar...
Porque todos sentimos

E esta "Naifa" é bem capaz de curar mais feridas do que faze-las mais profundas...


Um Estado de Alma... um Estado de Arte!